Autarquias: Igreja chamada a participar no processo de educação dos fiéis

O tema autarquias em alguns momentos exalta os ânimos e é preciso que a Igreja, nestes momentos, estabeleça pontes de diálogo entre posições antagonistas e coloque serenidade no debate, defendeu o director geral da ADRA, Belarmino Jelembi, em entrevista ao portal Arautos da Fé, na sexta feira (21.06), a margem de uma conferência promovida pela Sociedade Média Joyce da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA), em Luanda.
O responsável, realçou a importância da Igreja no processo de educação dos fiéis, por ela estar presente em regiões em que outras instituições não estão e alertou para a possibilidade de pastores serem assediados por partidos políticos para engrossarem as suas listas. “Nós sabemos que em muitos municípios as lideranças religiosas são entidades com muito prestígio. Portanto, as Igrejas, vão se deparar com este tipo de situações…”

Belarmino Jelembi, director geral da ADRA
Belarmino Jelembi, director geral da ADRA

Qual deve ser o papel da Igreja neste processo autárquico?
Uma Igreja como a IECA que tem uma forte tradição na área da educação, mas também uma tradição de equilíbrio, com uma forma de funcionamento – com autonomia das estruturas ao nível local, claro deve participar deste processo. Significa: por um lado assumir a sua função educativa , sobretudo ao nível local, naquelas regiões onde vários outros actores não está presentes, ao nível das aldeias, ao nível dos municípios, a uma componente educativa muito importante, a IECA tem esse potencial e pode jogar esse papel. Para as pessoas compreenderem o quê que é autarquia, qual a sua importância, como é que podem participar, qual é o poder que lhes está a ser depositado nas mãos. Por outro lado, uma igreja como a IECA, tem responsabilidades para aquelas circunstâncias em que é preciso colocar serenidade no debate. Sabemos que o tema das autarquias em alguns momentos exalta os ânimos, acirram-se posições e é preciso que instituições como a IECA, possam exercer o seu papel, colocar serenidade, fazer as tais pontes de diálogo entre posições antagonistas.
Claro que, para cumprir esses dois papéis tem que aprofundar o conhecimento. Até para que dentro da nossa diversidade, estamos em diferentes regiões, haja princípios mínimos de coerência. Para que não haja numa determinada aldeia um pastor a defender uma posição e a estrutura central a defender outra posição.
Pelos lugares por onde tem andado, tem notado algum interesse das lideranças religiosas em participar deste processo de educação dos fiéis?
Há algum interesse, mas o interesse precisa ser estimulado. Nós no país temos que intensificar o processo de educação autárquico. As autarquias não podem estar resumidas ao processo eleitoral. É preciso intensificar o processo autárquico e as confissões religiosas de maneira geral, estão em regiões em que muitas outras instituições não estão, têm uma penetração e uma capilaridade muito grande. Agora, nalguns casos encontra-se interesse e noutros é preciso estimular esse interesse. Porque também, estimular esse interesse, significa que as várias igrejas, actuem dentro do seu mandato. Quer dizer, há uma componente fundamental do processo autárquico que é a autarquia e o desenvolvimento local. Parece que é sobretudo esse foco que deve ser levantado, abordado, mas há dilemas. Sabemos que quando estivermos a nos aproximar das eleições vamos nos deparar com casos em que os partidos políticos vão precisar de lideranças religiosas para engrossar as suas listas. Nós sabemos que em muitos municípios as lideranças religiosas são entidades com muito prestígio. Portanto, as igrejas, vão se deparar com este tipo de situações, em que há pastores que vão ser convidados para entrar nas listas. Entram ou não entram? Isso tem que ser debatido com profundidade.
Do ponto de vista legal,não há nenhum impedimento?
Não. Não há, são cidadãos.
A questão pode só se colocar do ponto de vista ético! 
A questão vai se colocar do ponto de vista da estratégia de cada uma das igrejas. O pastor pode entender que neste determinado momento pode jogar esse papel. Mas isso tem que ser analisado com mais detalhe para ver quais são as implicações. É difícil assim de uma maneira aleatória dizer que sim ou que não, mas esse é um assunto que se vai colocar e a igreja tem que aprofundar essa discussão.
Que benefícios trarão as autarquias?
Em princípio as autarquias são o instrumento que aproxima a governação ao cidadão. A tal chamada governação de proximidade e isso pode abrir as alas para a cidadania, para a participação. Mas isso não acontece do dia para a noite porque as pessoas são as mesmas.
O potencial das autarquias, será mais ou menos activado em função da consciência da cidadania. Os municípios com maior intensidade de cidadania, em princípio, terão autarquias mais dinâmicas. Mas não há dúvidas de que pode ser um instrumento importante. Agora, é preciso registar o seguinte: nós não podemos dissociar as autarquias de tudo o resto, de redistribuição da riqueza. É importante que nos tenhamos, programas estruturantes de desenvolvimento económico dos municípios. Aí é onde enquadramos a lógica do processo autárquico.
Nós não podemos olhar para as autarquias, como algo completamente fora do desenvolvimento económico dos municípios, para que as pessoas não olhem para isso como algo estranho.

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