Participantes ao debate discordaram da cobrança de cachês a igrejas.

Participantes ao debate discordaram da cobrança de cachês a igrejas.

Consciência de fama e de enriquecimento que está fazer pessoas pularem do altar, diz pastor

A cobrança de cachês a Igrejas continuam a “criar barulho” no seio dos cristãos. No último domingo (16.02), o programa Harpa da rádio Escola, promoveu mais um debate com o tema “É licito cobrar cachê a Igreja”, ao qual compareceram um produtor, músico e dois pastores.

Participantes ao debate discordaram da cobrança de cachês a igrejas.
Participantes ao debate discordaram da cobrança de cachês a igrejas.

Os participantes foram unânimes ao reprovar a prática que vai se tornando comum nos nossos dias, mas divergiram sobre as suas causas.

O produtor Manuel Pascual Makuta Sola, conhecido no seio cristão como  Mestre Papy, afirmou no debate que dói-lhe o coração quando se fala de cachês porque “isso” desonra os músicos. Para o profissional, não é bom para o músico e mostra que ele não é honrado.

Defendeu que a cobrança feita a Igrejas é consequência de algo que não vai bem. Como causas, apontou a falta de organização das Igrejas e recorreu as Sagradas Escrituras para dizer que não é proibido dar salário aos músicos. “Na Bíblia está bem dito que o obreiro merece o salário”.

Manuel Sola perguntou no debate as razões que levam os pastores a não gostarem dos músicos e de não lhes pagar o salário. Sobre a administração da Igreja, afirmou que os pastores “se meteram numa coisa onde não devem se meter: ser gerentes da Igreja.”

O músico Samuel Paulo concordou que o músico não pode cobrar a Igreja, mas lamentou que algumas igrejas pagam músicos convidados e nada oferecem aos de casa.

“Não estamos a honrar pessoas que merecem honra”, disse e defendeu que os músicos cobram para manter o respeito pelo seu trabalho.

Respondendo ao comentário de um dos pastores sobre o comportamento dos músicos, Samuel Paulo referiu que conhece pastores “desorganizados” e que não têm ética pastoral. “Falam muito e atoa. Isso é uma realidade”.

O músico lembrou aos companheiros no estúdio que existem pastores para pastorear ovelhas, para pregar, outros só para abrir áreas. “Muitos pastores, estão a ser esforçados a liderar igrejas e estão a tornar-se chefes dentro da igreja e nessa chefia, da igreja estão a matar os levitas.”

Recorrendo a história bíblica, Samuel Paulo disse que os levitas eram remunerados, coisa que actualmente não é feita. Quando o levita arranja o seu patrocínio, observou, o pastor “fica por cima” dele mas Igreja não tem capacidade de o financiar.

“Existem pastores que não deixam os levitas saírem da igreja e acham que os levitas são propriedades suas”, desabafou.

O Pastor Afonso José, reconheceu haver falha da parte das Igrejas que não incluíram dentro das suas estruturas “o movimento levítico”.

Explicou que a coisa de 30/40 anos, o proclamação do Evangelho era vista de forma diferente, voltada as quatro paredes.

Afonso José afirmou que os pastores não perceberam que “os levitas estavam a crescer a uma dimensão tal que precisavam ser estruturados dentro da Igreja”. E hoje, referiu, a Igreja “acha” que o movimento levítico fora dela  é uma coisa normal, “o que eu considero que não é”.

Explicou que os levitas saíram (dos templos) sem que para tal recebessem um mandato e questionou: “quem é que te enviou? Se Deus te mandou, então que Deus te alimente”.

Considerou haver “um equívoco profético” e apelou para a necessidade de os músicos gospel se reunirem para reflectirem o momento.

“Talvez até orar e perguntar a Deus. Porque se não está a dar certo, alguma coisa também não está bem”.

Para o irreverente pastor Alberto Kambuembe, quem comprou (alguma coisa) a pode revender, mas “o dom de Deus, é gratuito”. «De graça recebemos, de graça vamos dar», citou, acrescentando que quem comprou o seu dom, tem a legitimidade de o vender.

Na actualidade, lamentou, há pastores, evangelistas, cantores que não estão no seu momento de santidade e estão a “mamonizar o seu ofício sacerdotal”. “Quer dizer que sem dinheiro não vai pregar nem vai cantar”.

Essa é uma realidade, que de acordo com Alberto Kambuembue não se escamoteia. O pastor, afirmou também que hoje “temos muita gente” devassa na igreja. “Uns bebem, uns são fornicadores… assumem compromissos e não honram”. Lamentou ainda o facto de estar a haver hoje desafios de unção, de carros e festivais de milagres.

O pastou considera haver no seio da Igreja um comportamento negativo, ao olhar para o levita como se fosse anjo ou pessoa que não tem necessidades por satisfazer.

“Significa que a Igreja está a falhar em não rever a vida o levita”. Ao responder uma questão a si colocada, sobre se algum pastor já investiu num levita, disse que a Igreja investe no louvor e adoração a Deus. “O pastor não investe no negócio de alguém”.

A Igreja, sublinhou, compra instrumentos para que os levitas manifestem a graça que Deus deu. “Não é que o músico gospel quer competir com a viola do artista x e eu tenho que ir procurar”.

Denunciou uma “consciência de fama e de enriquecimento” que está a fazer as pessoas pularem do altar.

Há músicos, apontou, que têm a visão de ser famoso, de ter muito dinheiro. Para esses, nunca o salário vai chegar.

“Os levitas têm de entrar neste ofício de forma sacrificada, de forma a servir Deus. Não se entrar com a consciência de ir ganhar dinheiro. Não.”

Antes, exortou o pastor, devem servir a Deus até com o seu dinheiro. “A Bíblia diz com todas as suas forças. Uma das forças é o dinheiro.”

Reiterou que quando as pessoas entram no pastorado ou na música com o objectivo de ganhar dinheiro, vão se tornar mercenários, vão “mamonizar o sacerdócio” e sem cachês não vão trabalhar.

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