Filipenses Cantor de Rua

Filipenses dispensou convites para cantar em bares por não achar conveniente.

“Muitos músicos fazem envergonhar a classe: namoram, vivem no adultério, na prostituição”

“Temos de procurar agradar a Deus e nos santificar”, é a exortação feita pelo músico Filipenses Cantor de Rua, à classe de artistas gospel, durante uma entrevista que concedeu ao portal Arautos da Fé.
O cantor, que denunciou a existência de músicos gospel que vivem no adultério e na prostituição, disse que duvida do músico que diz que tem uma carreira de sucesso e vive uma vida adúltera. Na entrevista que você pode ler abaixo, o músico apelou aos colegas a tudo fazerem para criar intimidade com Deus e a investirem na sua formação académica.

Filipenses Cantor de Rua
Filipenses dispensou convites para cantar em bares por não achar conveniente.

Arautos da Fé : Quem é o Filipenses?
Filipenses: O meu nome de registo é Augusto Adriano Faustino. Nasci em 19 e tal, no município de Cacuaco. Sou cristão. A denominação a que pertenço e a Igreja Universal. Gosto de música.

AF: Como é que está o seu ministério?
F: Na medida do possível. Tenho dado 50% aos estudos e 50 ao meu ministério de louvor.

AF:A quanto tempo na música?
F: Desde 2009 que comecei a tocar como músico. Cantando nas ruas, comecei em 2014.

AF: As suas actividades nas ruas continuam?
F: Na terça-feira (11.02) passada  estive na rua. Mas não tenho tido tanto tempo para estar nas ruas devido há alguns trabalhos e a escola. Há pessoas que pensam que eu cantava nas ruas por necessidade, não. O meu objectivo é mostrar para a sociedade que não há necessidade de estarmos parados em casa enquanto tivermos um dom ou talento. Precisamos partilhar o conhecimento que temos através de uma mensagem ou mesmo do talento que é de tocar.
Há quem pensava que tocando nas ruas estava pedindo esmolas. Algo que não tem nada haver. É simplesmente uma vontade de mostrar para as pessoas e ir atrás de oportunidades. Infelizmente as oportunidades que aparecem desde o momento que comecei a tocar nas ruas, são mais oportunidades de pessoas não ligadas a religião, não com uma vontade de apoiar a música gospel. Durante esse tempo já tive pessoas interessadas em me apoiar mas nunca foi interesse gravar música gospel. Já tive oportunidade de cantar em bares que também tive de dispensar porque não achei certo. Não achei conveniente tocar num bar e no dia seguinte as pessoas me virem tocar na igreja.

AF: O Filipenses é um cantor com uma postura muito diferente dos cantores gospel que vemos actualmente. Parece que é o primeiro que desenvolve actividades nas ruas da cidade?
F: É. Se todos os músicos gospel fizessem isso acredito que a música gospel em Angola teria outro paradigma. É que alguns músicos me criticavam, acredito que muitos deles são cristãos. As pessoas que me incentivavam muito são músicos seculares. Já vi músicos conhecidos que vieram me dar forças. Mas é triste ouvir de alguém que é cristão dizer não… algumas pessoas relacionavam isso… estou a cantar para buscar valores monetários, mas nunca foi essa a minha finalidade. Já uma vez alguém enviou-me uma mensagem, me ofendeu. Infelizmente, o que eu noto, é que os cristãos têm essa tendência de criticar, julgar e não ajudar. Fazem-se juízes dos erros das pessoas, algo que não é certo.

AF: Da sua Igreja recebeu algum apoio?
F: O apoio que recebo é pelo simples facto de eu ser músico de lá. Eu sou músico oficial da minha denominação e sou cadastrado. Por ser cadastrado a Igreja me dá uma pensão. Talvez é só isso. Senão assim apoio de cantar, divulgar as minhas músicas é muito restrito.
Mas eu dou graças a Deus e ainda hoje tive o privilégio de cantar numa das reuniões que até a pessoa que me deu esse privilégio de cantar é o superior hierárquico, um bispo. E teve uma segunda reunião que não me deram espaço para cantar e que fiquei muito triste. Imagine um superior hierárquico dá oportunidade e o um subordinado não dá!
Mas as Igrejas não dão apoio, isso é de todas Igrejas. Esse conflito de interesses nas Igrejas é praticamente genérico em todas Igrejas, não apoiam substancialmente os músicos.

AF: E quando é que nasce esse desejo de começar a levar o louvor para as ruas?
F: Vi que em Angola não tinha essa iniciativa de cantar nas ruas. Falei porque não tentar!Tinha uma guitarra e vi que… na verdade eu vendia jornal, fui até a CUCA comprei o jornal para tentar a subsistência. Praticamente sai da CUCA girei o primeiro de maio todo, não tive aquele sucesso e nem acabei de vender o jornal. Não tive sucesso. Depois vi na internet alguns cantores a cantarem na rua, falei: sei tocar guitarra porque não tentar. Peguei uma guitarrazina, peguei um saco preto e me meti em frente de uma loja no São Paulo e tentei. Peguei a minha guitarra e comecei a tocar. Não é que as pessoas estavam a trazer o dinheiro. Algo que eu achava impossível.
Só sei que naquele dia fiz mais dinheiro do que com o jornal que vendia durante o dia todo. Só em três ou quatro horas. Mas o que fazia com que as pessoas deixassem valores não foi interpretando outras músicas, foi interpretando as minhas músicas. Eu vi que têm mais impacto porque as músicas que componho estão relacionadas à sociedade. Por exemplo falo da morte de uma mãe, problemas sociais do país.

Um país quando tem muitos problemas sociais há muita proliferação de seitas. Assim também quando um músico aparece com a intenção de sensibilizar a sociedade que com Deus tudo vai dar certo não desista, as pessoas ficam com os ânimos calmos. As minhas músicas normalmente falam disso: vá em enfrente, não desista, Deus é contigo, tenha esperança, tenha fé. Essas composições chamavam atenção e as pessoas deixavam os valores.
A princípio não é muito o valor monetário que me levava lá. Também não é um valor tão avultado.

AF: Passavam os dez mil kwanzas?
F: Eu cantava nas imediações do Alvalade, tinha um supermercado, onde me tinham oferecido uma guitarra. Uma guitarra eléctrica. Um branco ofereceu porque me viu a cantar. Acredito que gostou, subiu ao prédio foi buscar mil kwanzas deixou e foi pegar a guitarra. Com o tempo comprei uma caixa e ao invés de usar só acústico, fiz já electro-acústico. Levava a caixa que acumulava carga e passei a tocar no São Paulo. No mínimo fazia cinco mil kwanzas, tinha vezes que fazia até onze mil dia.

Já sabes como é o nosso país, depois apareceu lá a fiscalização a dizer tens de te legalizar. Uma vez cheguei a ser multado. Tinha muita gente a me ouvir cantar, pegaram a minha caixa de som levaram no seu carro. Prenderam e disseram que tinha de pagar uma multa de 50 mil kwanzas, algo que acho absurdo. Ao invés de incentivarem… eles estavam a lutar contra a venda ambulante, mas eu não sou vendedor ambulante, simplesmente estava aí cantando.
Tem vezes quando cantava com a guitarra e caixa eléctrica chamava muita atenção. As pessoas paravam para ouvir. Fazia-se aglomeração de pessoas e acredito que chamava atenção dos fiscais.

AF: Quais as mensagens passava ou passa quando canta na rua?
F: De amor. O denominador comum sempre é Deus. Faço mensagens de fé, esperança, amor. Tem certas vezes que cheguei a interpretar músicas brasileiras que falam de amor, músicas de fé e salvação.

AF: Hoje quando ouve o trabalho dos seus colegas que avaliação faz?
F: Posso dizer que estamos no bom caminho. Hoje em dia já dá para ver músicos que ao cantar conseguem transmitir aquela paz, aquele incentivo, apesar de que ainda não temos muita qualidade sonora. Para ser sincero, os músicos gospel têm dificuldades para gravar nas melhores produtoras. Se poderem constatar, podes ir a um estúdio vão sempre dizer que o preço de gravação de uma música gospel é sempre mais caro.

Vejo que há desunião entre músicos. Temos que evitar o sacralismo. Não podemos convidar simplesmente músicos que fazem parte da mesma denominação. Temos que sistematizar a própria música gospel. Dar oportunidade para pessoas que se esforçam. E sou de opinião que os músicos gospel não podem buscar elogios, aplausos. Acho que não é essa finalidade dos músicos gospel.

Há 6 anos Filipenses cantam em várias ruas da cidade
Há 6 anos Filipenses cantam em várias ruas da cidade

AF: Aceitaria o convite de uma produtora secular para trabalhar?
F: Se for para gravar música gospel iria. Eu já tive um contrato de patrocínio. Só não lembro onde estão os papéis. O primeiro empresário do Sany Neto encontrou-me na rua, pediu encarecidamente para me apoiar, quis tanto me apoiar, só que era para fazer música secular. Uma vez os Detroia estavam para viajar, estava a bater aquela música “Bela”, era para a Namíbia, só que não tinha passaporte e não deu para ir. Mas o empresário fez um contrato comigo. Tenho o contrato.

Acredito que quando Deus não quer as coisas não funcionam. Eu desisti. Ele queria que gravasse 70/80% secular e o resto gospel. Já apareceram outras produtoras. Então, na minha opinião não aceitaria mas se for para fazer gravações gospel… porque muitos deles estão a ver que o mundo gospel está a dar alguns valores monetários estão a apoiar.

AF: Também, porque as produtoras gospel não têm dinheiro para trabalhar com os músicos… 
F: Sim, as produtoras gospel não têm dinheiro. Agora, é possível. Mas eu acredito que eles só me darão oportunidade se eu der os primeiros passos, uns 10%. Nenhum empresário investe num músico sem princípio. Esse empresário que estava para me apoiar, queria trabalhar com o meu público da rua. Ele disse: Filipenses cantas muito bem, tem muita gente a te ouvir, vamos trabalhar com essa gente da rua, esse será o teu primeiro público.
Se gravar uma música gospel e bater vão aparecer produtoras até não gospel com a intenção de trabalharem comigo.

AF: Como é que olha para as parcerias entre músicos gospel e seculares?
F: Para tudo há sempre um lado positivo e um negativo. Nós não podemos só negativar as coisas ou ouvir muito a opinião pública religiosa. Para a religiosidade essa união é um mal. Mas eu não acho, desde que não saía dos limites, desde que cada um esteja no seu devido lugar.
A parceria entre músicos gospel e músico secular é importante porque mesmo hoje em dia podemos ver música gospel a tocar em festas. A música da irmã Sofia, apesar de ser ritmo e dança… não sei se é o ritmo ou a mensagem que faz as pessoas meterem essas músicas em eventos que não são religiosos… Acredito que é mais o ritmo porque se fosse mensagem nem se importariam.
Não acho assim tão normal e também não condeno essa parceria.

AF: Tem algum trabalho gravado?
F: Tenho músicas gravadas. Por exemplo esse projecto de cantar na rua deu-me valores e tenho sete músicas gravadas. Daria uma maxi single. Tenho que divulgar para serem conhecidas e não adianta eu querer esforçar a barra, tentar vender um disco pirata na igreja, sem ter sucesso seria um músico infeliz. As pessoas têm primeiramente de conhecer uma música para depois divulgar mais.

AF: E tem estado a fazer a divulgação do seu trabalho?
F: Nesse momento a minha divulgação é só no Praiseart e nas ruas. Porquê? Há muita burocracia, por exemplos nos meios de comunicação, rádios, tem que se pagar sempre. Você às vezes não tens condições. Se as produtoras ou as rádios pensassem em ajudar, não pensassem muito no dinheiro, acredito que muitas pessoas que estão no anonimato hoje iriam aparecer. Hoje em dia para ir a rádio ou TV tem que dar sempre algum valor. Vinte mil kwanzas, as vezes 15 kwanzas. Trinta mil kwanzas para passar num programa de televisão. Eu como estou a estudar e pago a universidade, o dinheiro de pagar uma rádio ou a televisão estou a pagar a universidade. Achei que não posso me envolver a 100% não música porque é um futuro imprevisível. Já a formação não.

AF: Está a se formar em quê?
F: Direito.

AF: São duas paixões. A música e o direito!
F: Gosto de direito. Faço ela (música) com amor.

AF: Estilos preferidos?
F: Só não gosto Kuduro porque não gosto de dançar. Mas Rap gosto.

AF: Que mensagem deixa a classe de artistas gospel?
F: Que fizessem pelo menos um pouco que tentei fazer. Que saíssem às ruas para divulgar, mostrar que a música gospel não quer ficar em casa. Tem que sair e não ter aquele sentimento de inveja, não buscar aplausos em eventos, fazer ticks para ganharem aplausos. Cantem com o objectivo de agradar a Deus e não agradar o público. Nem o próprio Jesus Cristo conseguiu agradar a todos.

Temos de procurar agradar a Deus e nos santificar. Tem muitos músicos que fazem envergonhar a classe: namoram, vivem no adultério, na prostituição. Duvido do músico que diz que tem uma carreira de sucesso e vive uma vida adúltera. Não acredito que essa carreira vem de Deus. Para ter uma boa carreira cantando música gospel, tem de ter intimidade com Deus. É importante que os músicos procurem ter essa intimidade com Deus. Tenha só uma namorada, uma parceira. Não seja mulherengo, não se envolva com pessoas que não te leva em frente, procure meditar muito na Bíblia e se for possível estudar muito, isso é importante. Com o estudo a gente vai usar lógica em tudo e vai ver que não há necessidade de invejar o outro porque o outro faz coisas diferentes. Por mais que fizemos o mesmo estilo, as mensagens são diferentes. Se a pessoa gostou da minha música é porque gostou da mensagem.

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