'Engravidei três vezes, e ele me obrigou a abortar', diz vítima de abuso por padre

Depoimento foi exibido em reunião convocada pelo Papa no Vaticano com 190 representantes do alto clero da Igreja

Sacerdotes de todo o mundo estão reunidos na cúpula indédita convocada pelo Papa Francisco para debater abusos na Igreja Católica.
Sacerdotes de todo o mundo estão reunidos na cúpula inédita convocada pelo Papa Francisco para debater abusos na Igreja Católica.

Logo na abertura do encontro intitulado “A protecção de menores na Igreja”, nesta quinta-feira, convocado pelo Papa Francisco para tratar dos crimes de abuso sexual e pedofilia dentro da instituição, 190 representantes do alto clero de todo o mundo assistiram a um vídeo que compilou cinco depoimentos de sobreviventes de abusos cometidos por sacerdotes.
O alto clero deve ouvir outras vítimas ao longo dos próximos dias do encontro, considerado um marco na história recente da Igreja e que segue até domingo, dia 24, na Cidade do Vaticano. Segundo o especialista em Media e Religião, Rafael Medeiros, todos os dias os sacerdotes serão confrontados com relatos de sobreviventes em, por exemplo, grupos de trabalho. Em seu pronunciamento, o Papa prometeu acções concretas para combater a pedofilia na Igreja .
As vítimas apresentadas no vídeo nesta manhã de abertura não tiveram os nomes revelados. Até mesmo um padre, de 53 anos, fez seu relato sobre ter sido abusado por um sacerdote na juventude e ter visto seu caso ser acobertado por superiores hierárquicos. Leia abaixo, trechos de um depoimento:
Africana abusada e obrigada a abortar
Entre lágrimas, uma mulher contou sua história no vídeo apresentado aos cardeais, bispos e sacerdotes reunidos no Vaticano:
“A partir dos 15 anos, tive relações sexuais com um padre. Isso durou 13 anos. Fiquei grávida três vezes, e ele me fez abortar três vezes, simplesmente porque não queria usar preservativos ou métodos contraceptivos. No início, eu confiei tanto nele que não pensei que pudesse abusar de mim. Eu tinha medo dele e toda vez que me recusava a ter relações sexuais, ele me batia. Como eu era completamente dependente dele economicamente, sofri todas as humilhações que me infligia. Tínhamos essas relações tanto em casa quanto no povoado e também no centro de acolhimento diocesano. Nessa relação eu não tinha o direito de ter namorado. Toda vez que eu tinha um, e ele vinha a saber, me batia. Era a condição para que me ajudasse economicamente… Ele me dava tudo o que eu queria, quando eu aceitava ter relações sexuais, caso contrário, me batia.
Sinto que minha vida foi destruída. Sofri tantas humilhações nessa relação que não sei o que o futuro reserva para mim. Isso me tornou uma pessoa muito prudente em meus relacionamentos agora. Não se pode abusar de uma pessoa dessa maneira. É preciso dizer que os sacerdotes e religiosos têm maneiras de ajudar e ao mesmo tempo também de destruir. Eles devem se comportar como responsáveis, como pessoas prudentes.”
Fonte: OGlobo

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