Concertos solidário: O fenómeno analisado por quem já realizou

Nguito Pandas diz ser um filantropo “natural” e já realizou concerto solidário para ajudar pessoas carentes. “Tenho feito doações sem concerto. Desta vez fiz um concerto porque ouvi que há muitas pessoas necessitadas no Zango, então fiz um para ajudar as viúvas necessitadas do Zango. Agora se outros têm feito feito esses concertos solidários por terem dificuldades de venderem os ingressos não posso confirmar. Na minha vez fiz porque eu sou solidário por natureza. E brevemente farei um concerto para entrar alguma coisa para o meu bolso.”

Banda Ao Som da Graça doou bens à famílias carentes. (Foto: Fb da banda)
No início deste ano, Banda Ao Som da Graça doou bens à famílias carentes. (Foto: Fb)

Nos seus eventos solidários, conta, alguns músicos têm aparecido em resposta aos convites que endereça. “Mas na sua maioria não aparecem, sabem que não há retorno, vão cantar sem qualquer remuneração. Muita pena!”, lamenta e acrescenta, que os músicos que optaram “cantar para Deus”, têm de ser os primeiros a serem solidários. “Mas pronto, cada um sabe o que faz, sabe o que busca deste Deus, vamos apenas perdoa-los.”
Esclarece, que normalmente usa os meios de comunicação social para divulgar a entrega dos bens.
Como convidado, diz já ter participado de uma entrega de bens no Sanatório de Luanda, promovida pelo músico Celso Mambo. “Nunca mais vi ninguém a fazer entrega dos bens adquiridos destes eventos.”
Sobre a importância destes eventos, lembra que há pessoas a passarem muitas dificuldades na na periferia de Luanda e mesmo no centro cidade. “É muito importante que nós os cristãos, nós que decidimos cantar a música gospel para evangelizar, não só os músicos, as igrejas também, é o trabalho que Cristo trouxe… O amor ao próximo é ajudar aquele que mais precisa. Esses shows solidários, essas campanhas evangelísticas fazem bem. A fé sem obras, é uma fé morta.”
Nguito Pandas
Nguito Pandas. (Foto: arquivo)

Josué Catito, que enviou as suas opiniões pelo Facebook, não acredita incapacidade dos promotores venderem ingressos. A ser verdade, sublinha, não se pode considerar concerto solidário.
O músico diz que tem recebido sim convites para eventos solidários, mas que raras vezes recebe convites para os eventos de entrega desses bens ou uma informação a dar conta da entrega dos mesmos.
Josué, tem experiência na organização de eventos e em pelo menos uma ocasião organizou um concerto solidário que segundo ele, trouxe várias experiências”.
“Boas e também más, das quais destacamos apenas: a superação das expectativas, principalmente pelo envolvimento activo de irmãos, que abraçaram a causa, sem poupar esforços, tanto, físicos, psicológico e financeiro. E quando frisamos financeiro, tem haver com a aquisição dos bens que a organização achou mais viável arrecadar.”
Chama atenção dos promotores deste tipo de eventos, a evitarem receber dinheiro para a posterior adquirirem os bens e a pensarem “muitas vazes” antes de realizarem uma actividade nas instalações de uma  Igreja “que não dá abertura”.
Sobre a importância, não tem dúvidas, afirma ser necessário “ajudarmo-nos uns aos outros, sem medidas.”
“Infelizmente, a realidade social, pouco ajuda. Há muitos irmãos sem ter o que comer, sem escolas, sem emprego e outros males que afligem a nossa realidade que é visível aos olhos de todos… Por tanto, quem realmente é Cristão, sabe que temos de doar amor e quem ama sente a dor de seu próximo… Bem haja às organizações que adoptam em realizar eventos solidários sem segundas intenções…”
Josué Catito
Josué Catito. (Foto: Fb)

Márcio Massoxy, é líder de uma banda que tem a actividade filantrópica como um pilar da sua existência e considera que ajudar nunca é demais.
Sobre o aumento do número de actividades que têm cariz solidário, acha que “estamos a viver um fenómeno” que acaba levantando questões do tipo: “quais as motivações que levam as pessoas a fazerem?”
Márcio Massoxy
Márcio Massoxy

Por um lado, acredita, há quem quer fazer o bem, que é uma necessidade inquestionável e por outro, há quem quer ser um organizador conhecido e reconhecido com eventos lotados, o que considera uma ideia “infeliz”.
A Banda ao Som da Graça, que lidera, tem desde a sua génese a componente social e tem realizado eventos solidários. Apesar de contar com a solidariedade de poucos músicos, continua alimentando o sonho de um dia ter uma casa de acolhimento, para ajudar pessoas necessitadas e ensinar arte.
“Já são 7 anos desde que a gente faz isso e quando decidimos implementar isso na altura não existia projecto Y, projecto tal ou vários projectos, conforme agora a gente vê, e nem existia esse número de bandas formadas que hoje em dia tem e que realmente é uma coisa boa até certo ponto… Decidimos que se não temos ainda um orfanato que é uma meta que nós gostaríamos de poder alcançar, ter um lar de acolhimento em que podéssemos ensinar arte e ajudar nas suas necessidades.”
Normalmente os concertos solidários são amplamente divulgados, os cartazes trazem músicos de referência, mas a entrega dos bens arrecadados é pouco ou as vezes não é divulgadas, o que segundo Márcio, acaba chamando a atenção e levantando dúvidas as vezes.
“Existe sim muita divulgação: a actividade será grátis, a actividade será para fins de doação… mas as pessoas acabam não vendo o resultado dessas actividades porque as vezes fazem mesmo com a tendência de poder ter mais pessoas. Uns encaminham os donativos que recebem para certas organizações, não é errado, isso é terceirizar a coisa mas, só que demonstra uma certa fragilidade.”
Uma visão objectiva e credível é o que Márcio aconselha aos que pretendem realizar eventos solidários. “E fora a visão temos a responsabilidade como cristãos, de ter esse sentimento do mesmo jeito que houve em Cristo de poder ajudar, tocar e ser influente na vida de alguém que esteja a necessitar alguma coisa. Mas convém que os resultados sejam mostrados para que não se torne duvidosa a nossa causa.”
 
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