Asso-Música pode passar à órgão regulador da arte gospel

Na segunda parte da entrevista que concedeu ao portal Arautos da Fé, Paulo Paz, o presidente da Asso-Música, faz um diagnostico do estado actual da associação e em primeira mão, revela que há conversas com os Ministérios da Cultura e da Justiça para que a Asso-Música passe à órgão regulador da arte gospel. 
Alguns líderes religiosos, denuncia, por causa da sua ambição, impedem os fieis de comprarem CDs e ingressos para assistirem concertos de música, justificando que não vão gastar o dinheiro fora da igreja, além de impedirem que os artistas das suas congregações cantem fora delas.
Deus criou a associação para defesa dos artistas, afirma o presidente e diz que pessoas hipócritas fingem não ver.

Paulo Paz, Presidente da Asso-Música. Foto: Carlos Filipe)
Paulo Paz, Presidente da Asso-Música. Foto: Carlos Filipe)

AF: Qual é o diagnóstico que faz da Asso-Música em todo o país? 
PP: A Asso-Música está bem. Mas, falta ainda atingir outros objectivos. Só o facto de estar representada em todas as províncias, é uma valia, porque o artista sabe onde se dirigir e pode mais ou menos ser acompanhado e orientado pela própria organização. O artista já é defendido pela própria organização.
O diagnóstico é positivo. Porquê? Porque tirando aquelas pessoas hipócritas, nós temos também, artistas hipócritas, que fingem que não está ali a associação, dizem que não precisam da associação. Mas precisa-se, porque a associação, para quem quer tratar um passaporte, é preciso também a declaração da associação. Para tratar o passaporte como artista cristão, a associação passa. Tem certos documentos que a associação passa para ajudar o próprio membro.
É hipocrisia, mas eu também digo que, essas pessoas hipócritas, que fingem que o projecto de Deus não está ali e que não me uno ali,  estão em pecado. Estão em pecado, porque Deus te deu o dom e ao mesmo tempo deu uma organização. Se tu não estás na organização é porque não és organizado, é porque não és disciplinado. És indisciplinado e sendo indisciplinado, Deus não aprova isso.
 
AF: Em termos de números, como é que estamos em todo país? 
PP: Na verdade, estamos ainda em quatro mil e tal de membros. Porque afroxou-se um bocadinho. Eu não sei se é porque causa da crise, as pessoas fecharam-se um bocadinho. Há poucas actividades, sabe que são as actividades que movimentam e ao mesmo tempo mobilizam, sensibilizam e ao mesmo tempo motivam os artistas.
 
AF: Destes quatro mil de que estamos a falar, qual é a percentagem que realmente paga as suas quotas e cumpre os seus deveres de associados?
PP: Meu querido irmão, na verdade, ninguém paga quotas. Quando se fala de dinheiro no cristão (risos), é mesma coisa que mostrar a cruz ao diabo. O diabo foge da cruz e o artista cristão, tu lhe falas em dinheiro, ele se desfaz logo.
 
AF: Mas uma associação não pode viver sem as quotas!
PP: Não pode viver sem as quotas e quando se fala sobre das quotas a associação se desfaz. É por ali que estou a dizer, que a empresa Paulo Paz, é que tem agarrado as actividades da associação. 
 
AF: E quando um dia o Paulo Paz deixar a presidência da associação?
PP: Temos homens preparados. Por exemplo o delegado de Luanda, o Luís Capoco, é um homem forte.
 
AF: Também vai colocar recursos próprios para o trabalho da associação? Porque está é a questão fundamental. Como é que a associação se vai manter?
PP: Na verdade, cada homem tem a sua política. A minha política, no momento é esta. Que eles paguem quotas, mas se não estiverem a pagar quotas, vou para o plano B. Eu pessoalmente, a minha empresa vai assegurando as actividades. Claro, o Luís Capoco ao nível de Luanda, tem a sua forma como pega as actividades. Mas, sempre que ele não pode no seu total, ele comunica-me e eu apoio. O Luís Capoco é uma pessoa também muito forte em termos de ideias, em termos de dinamismo, vivacidade. O Luís Capoco é um braço directo do Paulo Paz.
Para além do Luís Capoco, temos o delegado da província de Cabinda. Também é um homem muito forte, consegue levar a associação. Para além disso, temos o Secretário provincial de Cabinda, o José Puna. Também é uma pessoa que movimenta actividades em Cabinda. Temos o delegado de Benguela que é o papá Nzaló. Este também é muito forte. Esses homens que eu citei, são pessoas que compreenderam a visão da associação, conhecem os meandros da associação e qual o objectivo a atingir. Para pessoas que não estão interessadas e não se importam, esses não compreendem.
Mas eu quero dizer, que é tão bom pertencer a associação, primeiro é que somos mais respeitados, segundo, para não dizer as próprias bênçãos do Senhor. Muitas vezes, nós nos sacrificamos andar com esta associação, mas de repente, a gente assusta, alguém que está a vir nos oferecer algo. Nós não sabemos se é aquele sacrifício que a gente fez na associação. É bom pertencer a associação, porque cada vez que vai fazendo actividades, também vai promovendo os próprios artistas. Tendo aquele passe da associação…, é um passe de peso. Eu já consegui viajar daqui a Huíla, sem o documento do carro, sem os meus próprios documentos, só com o passe da associação. Porque a associação é reconhecida pelo governo, pelo Estado. É reconhecida, está legal e eu com aquele passe passei em 3 ou 4 controlos. Apresentei o passe, só olharam para o passe e passei. 
Já fui também a penitenciária de Viana, sem o meu bilhete e ali sem bilhete não se entra. Única pessoa que tinha o passe diferente era eu. Passei em 3 portas. Já sabe o que é você ir para uma penitenciária, não se sabe se estás a ir matar o preso, se estás a ir roubar, se estás a ir por uma bomba, é uma grande responsabilidade, mas só com passe olharam e nos fizeram… quer dizer, só com o passe, tu consegues até encontrar concertos gospel e tu entrares. Quer dizer, só há benefícios. 
 
AF: Como é a relação da Associação com o Governo? 
PP: Muito obrigado por tocar neste assunto. A Igreja em si, para ter aquela relação com o Estado e o Estado com a Igreja, foi graças a associação. Naquela altura que não se falava da Palavra de Deus nos medias, que não se falava, não se pregava, nem se tocava música gospel, mas, quando a associação revolucionou o gospel e deram conta que isso é da Igreja e já não conseguiam fazer nada, deu visão ao Estado, que afinal os da Igreja não são assim tão maus, os da Igreja afinal são mesmo como nós. Olha lá eles como estão a rir, como brincam, como falam. Porque nós passávamos muito em televisões. É ali onde há aproximação entre Estado e Igreja. Quer dizer, que a Asso-Música foi como ponte, foi como incentivo à ligação entre Estado e a Igreja.
Mas hoje em dia, a Igreja não liga a associação, não apoia a associação. O próprio Estado também, pouco apoia a associação. Nós temos uma ligação directa com o Ministério da Cultura, até temos parceria, mas é o quê? É um apoio institucional. Apoio… precisamos do espaço X, as vezes não têm. Precisamos de alguns valores, as vezes não têm. Quer dizer, temos uma boa ligação com a Cultura, mas o apoio ainda não é daqueles que nós vale. A Cultura tem nos apoiado bastante nas províncias. Mesmo as reuniões da associação têm sido as vezes nas salas da Cultura. Com a Cultura, nós temos uma boa ligação, mas o apoio, não é aquele de finanças. 
Eu fico um pouco triste em saber que nós da Asso-Música música fazemos música e o ministério da comunicação social não nós presta atenção. A própria TPA é uma instituição que as vezes convidamos, mas não convida a associação. Convida por exemplo o Paulo Paz porque é amigo, convida um Guy Destino porque é amigo. Essas instituições todas têm de meter na cabeça, que hoje em dia, no mundo vive-se por associações. Quer falar da batata, saber a história da batata, chama a associação dos camponeses, vai te explicar. Não chama um camponês, que nem está enquadrado na Associação dos Camponeses para te explicar da batata. Esse não está autorizado. Queres falar de doenças, chama a Ordem dos Médicos, queres falar de leis, chama a Ordem dos Advogados. 
 
AF: A associação já tentou dialogar com estas instituições?
PP: Nós já tentamos dialogar, mas é aquela, por saberem que é da Igreja, é música gospel…, como sabemos, neste país estamos numa luta titânica, tremenda, ainda o gospel é desprezado em certas instituições. 
Para veres, quando a TPA 2 se desfez da Semba e passou para a mão da TPA ou do Estado, estava-se a remeter projectos para programas. Nós aqui ao nível nacional, não temos nenhum programa gospel. Se temos, na Palanca TV que o Guy Destino faz, não digo que aquilo é programa gospel, porque não é daquela qualidade do meu entender. Mas estamos a falar programa gospel de verdade. 
 
AF: Que promove a música gospel…
PP: Que promove a música gospel. Nós remetemos um projectos à TPA. Fomos chamados pelo Director da TPA 2. É uma vergonha, nós somos, 85 porcento da população angolana é cristã. Não temos o direito de ter um programa gospel na televisão? Depois de sermos chamados, fomos lá, gostaram do programa. Gostam do programa e dizem que é para refazer! Se tínhamos condições para produzir o programa. Nós dissemos que realmente temos o pessoal e outras condições. Nos mandaram trazer o programa piloto, levamos o programa piloto, ah, porque nós não aprovamos isso. Mas, se vocês não estão a nos produzir, como é que vocês vão aprovar? Claro que aqui, não tem grandes produtoras que é para nós fazermos uma coisa, sei lá, logo que é piloto pra vocês verem que é espécie de verdade. A própria TPA é que tem que nos arranjar o espaço, é que tem as condições, tinha que nos filmar. Nós levamos as ideias, levamos o pessoal. Posto lá, pusemos essas ideias todas, epa, TPA 2 está a vir nos dizer, pelo vice Director que é o Botelho, que nós não temos condições de vos produzir, se vocês quiserem vão procurar produzir numa produtora e depois passem a nos trazer a maquete para nós arranjarmos o espaço para vos pormos no ar. Estamos a ir nessa tal produtora está a nos pedir cada produção setecentos mil kwanzas. Já viu o que é? Por mês são quantos domingos? O programa é para passar aos domingos. Durante um mês são 4 domingos. Em 4 domingos setecentos, setecentos, nós como Associação vamos tirar isso aonde? O Ministério da Comunicação Social não se debruça sobre isso, a tal TPA está a nos meter esse entrave, o Estado está desligado. Eu pessoalmente, num dos encontros que tive com sua excelência o presidente João Lourenço, antes de ser presidente, ao fazer a sua candidatura, aqui no Centro de Conferências de Belas, estávamos lá duas mil e tal almas, fomos lá debater assuntos da sua candidatura porque ele, naquela altura estava a fazer encontros com várias camadas, eu pessoalmente levantei e o próprio presidente é que disse, agora é a vez do Paulo Paz falar, eu remeti 3 assuntos. Dois assuntos sociais e um assunto de programa gospel na televisão. Eu falei isso com João Lourenço. E o João Lourenço garantiu-me que estaria em condições de fazermos o programa. Posto na TPA estão a me dizer cada programa setecentos mil kwanzas.
 
AF: Já pensou em escrever para o Presidente da República a fazer-lhe lembrar deste assunto?
PP: Na verdade, não fiz. Tenho pensado em fazer isso, até marcar mesmo uma audiência com sua excelência. A classe artística gospel marcar uma audiência com o Presidente da República que é para lhe fazer ver isso. Há tantos programas na televisão! Primeiro, tem lá programa de Kuduro, tem programas… quer dizer, programas que não são para a alma. Eles esqueceram-se que todo pessoal tem uma alma e está alma precisa se alimentar da Palavra de Deus. Eles estão a confundir o corpo. O corpo alimenta-se da comida normal o funge, a batata, mas a alma? Alimenta-se da Palavra de Deus. Então por ali um ou dois programas… o quê que eles agora estão fazer, passam a perna a Asso-Música, nos põe estes preços tão altos que agora já estou a ouvir um zum zum… Nós, até nos mandaram arranjar um apresentador do programa. Chamamos o Bambila, conversamos com o Bambila e tal. O Bambila como é muito amigo do Guy Destino, falou ao Guy Destino que a TPA quer passar o programa à Asso-Música. Posto ali, agora parece que o Guy Destino andou lá a fazer uns contactos, agora estou a ouvir dizer que quem vai passar a fazer o programa é o Guy Destino. Mas onde é que já se viu num país deste, um artista individual fazer o programa! Esse programa vai ser para quem? Para os amigos dele, para a companhia dele. Mas uma associação é abrangente, é a nível nacional. A associação tendo o programa na televisão, até o homem do Cuando Cubando, Benguela, Moxico, todo mundo vai pra ali porque a associação olha para um bloco todo tá ver. 
Tem tido debates lá na televisão, estão a falar do gospel, não comunicam a associação ou pelo menos mandar lá um representante da organização. Então está a se falar do gospel, epa quem está a acompanhar isso é a associação. Quem é o legítimo, legal, que responde sobre isso perante o Estado, é a associação. Como é que isso é possível? As vezes a associação tem tido actividade, escreve para a televisão se fazer presente não aparecem e quando vão, coisa boa ao invés de porém também no noticiário, põe no Ecos e Factos. Ainda por cima, os artistas ao invés de estarem unidos para combater isso, ficam desunidos. Um por ali, um por ali. Por isso, a organização não está tão coesa.
 
AF: Voltou a falar de união. Muitos eventos de música gospel estão a acontecer nos últimos tempos, mas estão a aparecer muitas queixas sobre a desorganização, muitos eventos num mesmo dia, num mesmo horário, o que de certa forma cria constrangimentos ao público, cria confusão para os músicos porque as vezes são os mesmos que são chamados para dois ou três eventos num único dia. O presidente está atento a isso, o que está a pensar fazer para ajudar a resolver essa situação?
PP: Estou atento. A organização está muito bem organizada porque existem direcções provinciais e direcções municipais. Mesmo cá  em Luanda, também tem a direcção provincial que é dirigida pelo delegado Luís Capoco. Ele também tem estado atento a isso. Por isso é que, dia 15 e porque a publicidade parece que já estão a sair na rádio, vai haver um encontro provincial de Luanda que é para poder falar sobre a união, o estado actual da associação, vai se falar também sobre a própria organização dos músicos. É só pra ver que nós estamos preocupados sim senhora com isso. E na verdade, nós estamos a ser… daqui a nada vamos estar documentados para passarmos a regulador desta arte. 
 
AF: Há conversas com o Ministério da Cultura sobre isso?
PP: Há conversas com o Ministério da Cultura e também da Justiça. Esta desorganização e não só, porque entre músicos têm muitos problemas entre eles. Um ofende o outro, outro ataca o outro. Entre eles não se entendem. Mas é tão feio, sendo cristãos e fazermos estas coisas. Estamos preocupados com isso e depois de estarmos bem organizados e todos artistas na associação, isto terá o melhor rumo. A produtora X naquele dia vai realizar o seu concerto. Todo mundo apoia aquela produtora. O artista fulano no mês X, dia X vai ter o seu concerto, todos artistas vão apoiar este artista. O artista fulano vai vender o seu disco, todo mundo tem que ir lá comprar o disco do fulano. Porquê? Só a classe artística já vai dar uma garantia financeira ao artista. O artista quando for acalcado com dinheiros já poderá desenvolver melhor a sua obra, já poderá ter o seu carro, a sua casa, as suas condições. Porque milhares e milhares de artistas foram lá comprar o disco dele. Vamos ensinar os artistas a ir comprar a obra discográfica de cada artista e vamos ensinar o povo da Igreja a comprar a obra do artista, a ir ao concerto do artista. 
Aqui em Angola, os nossos próprios líderes, Pastores e Reverendos, diáconos e sei lá, eles é que estragaram isso. Primeiro por causa da ambição. O seu fiel saindo para ir comprar o disco do fulano, vai gastar o seu dinheiro e na igreja não vai dar dinheiro. Então, é de preferência não anunciar por exemplo o projecto do Arautos da Fé. Eu não vou anunciar senão o meu povo vai gastar lá dinheiro. Isso é triste, os Pastores não alertam os seus fiéis para irem comprar o disco do fulano, assistirem o concerto do fulano, apoiarem a actividade X. Os próprios Pastores privam os artistas nas 4 paredes deles para cantarem só pra eles  e não pelo menos fazer sair como Deus diz, não é?  Ide evangelizar todas as nações. Eles não estão a cumprir também.
Muita burocracia e a associação tem a mão pesada para isso,  a associação defende os artistas e tudo aquilo que faz mal aos artistas a associação tem o direito de se opor. Tem o direito de ir ao Pastor e dizer: senhor Pastor é isso assim assim assim. Isto que está a fazer é crime. Quer dizer, a associação surgiu para vir por ordem e regras nisto. Não surge porquê? Falta de união. O pessoal todo está cego, eles não sabem que esta a associação, Deus criou para defesa deles. Não sabem que é para o benefício deles. Eles pensam epa, deixa o Paulo Paz lá. O Paulo Paz pode andar, cada um com a sua vida. Não! O Paulo Paz está preocupado porque tem a organização que Deus lhe pós na mão e quer disciplinar, beneficiar os artista. Mas os artistas não olham para isso. Mas enquanto eles não vem, não olham, nós vamos continuar a trabalhar da forma que nós estamos a trabalhar.
 
Clique aqui para ler a primeira parte da entrevista:
“NÃO É VONTADE DO PAULO PAZ ESTAR NA ASSOCIAÇÃO. É A VONTADE DE DEUS”   
Clique aqui para ler a terceira parte da entrevista:

PAULO PAZ DIZ ESTAR ABERTO A CRÍTICAS E ATÉ PARA CEDER O LUGAR

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