Mais de 10 horas retidos numa esquadra policial

 
 
Propósito de Deus ou maldade dos irmãos?
 
Eu e o meu amigo Israel Aprazível passamos mais de 10 horas retidos no Comando Municipal de Viana, acusados de intoxicarmos o recinto da Igreja Pentecostal Missão do Maculusso, centro Fenuel
 
Domingo 16 de Julho, fui a Viana (Luanda) para assistir mais uma edição do Aprazível, espaço onde a arte gospel tem lugar. Após o termino, Israel e eu acordamos ir ao Praise art (lugar de adoração, situado na baixa de Luanda), mas o transporte demorava, passavam aproximadamente 30 minutos da hora 19, o Israel sugerir que visitássemos o Local de Adoração, que ficava a pouco menos de 15 minutos do sitio onde estavámos, ao que concordei.
 
Já no local, Israel fez questão saudar e me apresentar algumas manas, suas companheiras de longa data “das noites Aprazível”.
 
Apaixonado confesso da música angolana, Israel não resistiu a kizomba que estava a ser tocada pela banda da igreja, e no seu jeito peculiar deu uns tocs enquanto procurávamos lugar para sentar.
 
Calculo que não estavámos sentado há 10 minutos quando um cheiro nauseabundo tomou a atmosfera. O pânico instalou-se e corremos todos para fora do quintal da igreja. Algumas irmãs passaram mal e enquanto recebiam cuidados de outros irmãos, peguei o telefone e comecei a ligar para os Bombeiros e Polícia nos habituais 115 e 113. Na falta de respostas procurei fontes alternativas que me levaram a contactar o comandante adjunto da Divisão de Viana, que tomou nota e prontamente orientou outro responsável da corporação a ligar para mim, garantindo que em pouco tempo chegariam os Bombeiros e as forças policiais.
 
Demoraram mas chegaram. O pânico continuava a dominar o ambiente. Tão logo os Bombeiros levaram as primeiras vítimas para uma unidade hospitalar do município de Viana, o restante do grupo começou a interceder.
 
Não demorou muito, outro pânico se instalou quando algumas irmãs caíram novamente. Correria, gritos e choros. Os mais “resistentes” prestavam o seu auxilio às vítimas.
 
Demorou a chegar, mas assim que chegou, a Polícia começou o seu trabalho, procurando informações sobre o tivera sucedido.
 
Eu e o Israel também interagimos com o efetivos em serviço, tanto da Polícia como do corpo de Bombeiros ali presente.
 
Estando a hora já adiantada e acima disso as vítimas já encaminhadas para os cuidados médicos e a Polícia tomando conta da situação, o Israel e eu entendemos que era hora de partir e assim o fizemos. Talvez não tinhamos caminhado 1000 metros, quando o carro da Polícia parou junto de nós e do oficial de serviço ouvimos a ordem para subir na viatura ao que obedecemos.
 
Regressamos a igreja. Fomos orientados a permanecer na viatura policial, obedecemos. Um mau pensamento tomou conta de mim, era primeira vez que colocava os meus pés naquele lugar, que me fora anunciado como sendo de adoração. Pensei em me aquietar, não fosse um homem inoportuno que abrindo a porta do direita da Land cruizer policial “atirou” palavras grosseiras e ameaçadoras contra nós. Como a sua fala e aparência me fizeram crer que não estava sóbrio, achei melhor ignorar tudo quanto nos tinha dito.
 
Já começávamos a perceber que alguma coisa não estava indo bem, mas de concreto nada nos tinha sido dito.
 
Algum tempo depois, os oficiais da Polícia regressaram a viatura e começou a procissão. O primeiro destino foi o hospital do Capalanca, durante a viagem uma conversa com poucas, mas repetidas perguntas. Nada muito assustador, afinal estávamos num carro da Polícia e com policiais a bordo. De certo não nos perguntariam como anda o Aprazível, nem como anda o Arautos da Fé, muito menos como anda a música gospel em Angola.
 
Como um puzzle que se vai compondo a medida que o jodador encaixa as peças nos lugares certos, assim também começávamos a perceber o rumo que estava tendo a procissão. Estranho mesmo foi que os amigos do Israel, responsáveis do Lugar de Adoração e líderes juvenis da igreja acima referenciada, mantiveram uma distância parece que recomendada por um “deus” desses que andam por aí a estragar o que vai bem. Visível foi a frieza com que respondeu um deles, a uma pergunta que lhe fora feita pelo amigo Israel. Bom, talvez estava com fome!
 
Poucas dúvidas agora restavam, estávamos aí retidos na condição de suspeitos de intoxicar aquele lugar de adoração.
 
Aguardamos. Pacientes? Talvez não. Sei que aguardamos até que os oficiais da Polícia regressaram à viatura e ao condutor foi dada a ordem de partida para o Comando Municipal, com escala em duas esquadras do município.
 
Chegamos ao Comando, o responsável da viatura policial levou-nos até ao piquete e ao investigador em serviço, expôs as razões da nossa presença naquele lugar. Eu e o Israel, assim me ensinaram que nas coisas negativas coloca-te sempre a frente e nas positivas faça o inverso, estávamos sendo acusados de ter aberto uma lata, no local do evento, que continha um gás toxico.
 
Só não desatei em gargalhadas porque tive que me conter. Pensei eu: agora sou uma versão angolana desses terroristas que criam pânico nas europas, américas e até mesmo nas áfricas.
 
Também pensei: Brincadeira de mau gosto ou essa gente desconhece a gravidade da acusação? A resposta com certeza virá. Tem de vir.
 
Ouvidas as partes, nós os acusados permanecemos na unidade policial, porque assim mandam as regras. Deveríamos ser apresentados ao procurador logo nas primeiras horas do dia. Como as coisas não são tão automáticas, tivemos de esperar até quase ao meio dia, quando nos foi “devolvida” a liberdade.
 
O Israel ainda dormiu durante a noite, até roncou. Mesmo sentado na cadeira, passei a noite sentado a conversar comigo mesmo. Foi um longo e difícil exercício, mais perguntas do que respostas.
 
O Israel é um homem cheio de fé. Cada vez que eu mexia a cadeira ele acordava e me dizia que deve ser propósito de Deus. Ele acha que alguma coisa Deus quer nos dizer com isso tudo.
 
Queria eu ter a fé dele, lutei enquanto o dia não chegava para pensar como ele. Lembrei várias vezes de uma pergunta que lhe foi feita, para saber se o espirito da inveja não tinha se apossado dele, levando-o a conspirar contra o seu concorrente “Lugar de adoração”. Conhecendo o Israel e a sua paixão pelo gospel, nunca acreditaria nessa tese.
 
Em casa estamos, o processo vai seguir o seu curso normal. Convém que seja! Abalado estou, mas calmo e sereno. Vamos continuar a adorar, a exaltar o nome do Senhor. Hammm, já me ia esquecendo! Na madrugada fria, lembrei ao Israel que foram as acusações infundadas que levaram Jesus Cristo ao monte calvário. Nós também vamos sofrer muitas vezes por causa do nome de Jesus. Se fomos àquele lugar foi somente para adorar.
 
Israel, me perdoe mano, mas acho que fomos vítimas da maldade que habita no coração daquela gente.
Luzingo malembe,
Levando levando,
Nas calmas
Bem sempre triunfará.
 
Aos manos Bernardo Lazarrubem Bahsa BC, Arnaldino Jonatão Satchipia e Hilário Crito, gratidão é eterna.

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